Num dia, já quase em fim de Verão, fomos ao encontro de Rui Reguinga um dos mais reputados e reconhecidos enólogos portugueses e tivemos a oportunidade de participar numa das suas vindimas nas vinhas velhas, algumas centenárias, na região de S. Mamede. Pusemos mãos à obra e conseguimos perceber alguns dos segredos que dão origem a vinhos de excelência da região do Alto Alentejo, um dos vários locais onde tem a sua própria produção. Numa agradável e simpática conversa ficámos a saber um pouco mais acerca deste famoso Enólogo, e vitivinicultor, reconhecido internacionalmente. Para além das vinhas, tivemos ainda a oportunidade de visitar a sua adega localizada nos Olhos de Água, junto à cidade romana de Ammaia, onde degustámos alguns dos seus vinhos da região, experiência que recomendamos na Despensa Franciscana.
DF: Rui, como começou a sua relação com os vinhos e o que o levou a estudar para ser enólogo e a desenvolver o seu próprio negócio?
RR: Desde muito jovem que ia para o lagar do meu avô pisar as uvas. Nesses tempos não imaginava que a minha profissão seria trabalhar com vinhos, para mim nesses tempos era uma brincadeira de criança.
Esta influência foi importante na minha decisão de estudar no ISA (Instituto Superior de Agronomia em Lisboa).
Mas gosto muito do que faço e sinto-me feliz por ter escolhido a profissão de Enólogo.
DF: Tem havido muitas mudanças nos últimos anos ao nível da produção de vinho, quer em Portugal quer a nível internacional?
RR: Sim, a evolução da tecnologia nas adegas e o conhecimento das vinhas, tem-nos ajudado a elaborar vinhos mais apreciados pelo gosto do consumidor.
DF: Analisando o seu percurso de vida e sabendo de todos os locais do mundo em que já prestou consultoria, desde Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Brasil, Chile até ao Sri Lanka, entre outros, como classifica o “terroir” português e as características do nosso clima comparando-as com aquelas realidades?
RR: Portugal tem dos melhores Terroir (clima, solos e castas) para elaborar vinhos de alta qualidade. Pela minha experiência internacional, a grande diversidade de castas que Portugal possui, é a melhor característica dos nossos vinhos. O mercado internacional está muito receptivo a vinhos com castas originais e únicas.
DF: Sabemos que possui a sua própria marca de vinhos, aliás, reconhecida pelos apreciadores de bons vinhos. Sabemos, também, que possui vinhas noutras regiões, além do Alto Alentejo, e por isso gostaríamos de saber em que outras zonas do nosso país desenvolve a sua produção e que vinhos produz nessas mesmas regiões?
RR: A minha actividade profissional divide-se em actividade de enologo- consultor, onde vendo o meu conhecimento e experiência a produtores que querem fazer o seu próprio vinho, mas que precisam de um enólogo-consultor que lhes aporte experiência e visão internacional. Por outro lado, tenho a minha actividade de enólogo-produtor, onde tenho as minhas próprias vinhas. Para esta minha actividade criei uma equipa técnica para me ajudar nas várias regiões onde elaboro vinhos e tenho marcas diferentes:
_ Terrassus na região do Douro
_ Tributo na região do Tejo
_ Terrenus na região do Alto Alentejo
DF: Como define os seus vinhos?
RR: São vinhos de Terroir e vinhos de Autor.
DF: Há alguma casta de uvas, em particular, que lhe dê mais prazer trabalhar?
RR: Gosto muito de trabalhar com as castas Touriga Nacional, como casta nacional, e a casta Syrah nas castas internacionais.
DF: Na sua actividade de vitivinicultor e de enólogo terá, certamente muitas vezes, de tomar decisões importantes e até difíceis. Gostaríamos que nos dissesse, ao longo de todo o processo de produção de vinho, qual o momento, ou a fase de produção, em que é mais difícil de tomar decisões?
RR: A mais difícil é o momento de colher a uva, isto é marcar o dia da vindima.
DF: Numa altura em que tanto se fala nos princípios de sustentabilidade, e protecção dos ecossistemas, quais as medidas que tem implementadas, ao longo das várias fases do seu trabalho, para fazer face a este tema?
RR: Tenho em conversão uma das minhas maiores parcelas de vinha (3ha) para vinha Biológica e, se correr bem, nos próximos anos vou ter todas as vinhas a serem cultivadas em modo biológico, salvaguardando a sua sustentabilidade.
DF: De que forma sente que pode ajudar outros enólogos ou adegas?
RR: Estou sempre disponível a partilhar os meus vinhos e as minhas experiências com os outros enólogos e produtores.
DF: Qual a maior fonte de inspiração para desenvolver o seu trabalho?
RR: O meu pai.
DF: Uma vez que estamos no Alto Alentejo, e numa das suas vinhas nesta região, gostaríamos que nos propusesse uma sugestão de harmonização dos seus vinhos com algum prato típico da nossa zona.
RR: Terrenus Branco com sopa de cação e o Terrenus Reserva Tinto com o Javali estufado.
DF: Existe já uma geração mais nova que manifeste interesse pelas actividades ligadas à vinha e pelo futuro do vinho?
RR: Sim, temos vários jovens com grande paixão pelos vinhos do nosso país.
DF: O que podemos esperar, no futuro, de um enólogo com a vasta experiência que o Rui possui, aqui para a nossa região do Alto Alentejo?
RR: Espero projectar e valorizar os vinhos de Portalegre, fazendo com que tenham, sobretudo, reconhecimento internacional.